en-Trilho de Sabugal

No Dia da Rainha Santa Isabel, Magdala atendeu ao chamado do coração por pura intuição. Sendo um dia da semana, cada uma arrumou a sua vida para poder fazer uma nova viagem rumo ao Sabugal, local onde aconteceu o Milagre das Rosas.
Logo pela manhã havia uma sensação misteriosa na presença da Ana Maria e da Diana que se tinham vestido em tons de branco. Enquanto tomavam café, ainda em Rio Tinto, surgiu a impressão de que iria acontecer algo como que um casamento, uma união sagrada interna, dentro de cada uma e eis que a Diana lê no saquinho de açúcar: "queres casar comigo?"... Foi a primeira sincronicidade de muitas que revelaram uma série de acontecimentos inimagináveis... num só dia.
A Maria João chegou com o seu carro azul céu, e lá seguiram caminho em direção à região portuguesa onde se ergue a Serra da Estrela.
No caminho o diálogo era muito profundo e sério, vinha das instâncias mais difíceis de perscrutar no coração e da percepção da energia que se queria ali mostrar no centro do quarteto. No lugar da frente, a Diana falava de memórias impregnadas na sensação de aperto na garganta e todas perceberam um espaço em comum... como que fora do tempo, dentro de outras vidas, as lágrimas começaram a correr e sentia-se a veracidade da frase: "... é demasiado, é como dar à morte uma parte de mim...". O Silêncio encontrou o seu ninho entre todas, que davam as mãos, sentindo que o asfalto passava a ser o mar e o motor a ser o vento que levava o barco... Em plena auto-estrada a Ana Maria sentiu na voz a plena doçura de quem sabe que tem de entregar ao Altar da Misericórdia um corpo vivo de dor... "abwoon d'bashmaya...", invocando a luz de Jesus e dos Arcanjos todas sentiram o coração da Diana, entregando a voz e o nó da garganta às lágrimas, o toque trazia a percepção do quão difícil é sentir-se tocado quando há tanto que dói na memória.
O Arcanjo Chamuel trazia o aroma da sua Santa Amorosidade e as vozes fundiam-se para vivificar a sua substância. A Diana confiava, apesar da força da memória que queria rejeitar a mão estendida, tal é a violência do ponto de dor onde o tempo bloqueia o fluxo da Palavra. A substância amorosa foi diluindo o que estava cristalizado nesse lugar... pararam numa estação de serviço onde havia lindos e belos pinheiros mansos. Debaixo de um deles, com os pés rodeados por florzinhas amarelas, a Ana Maria dizia palavras de doçura em frente à Diana: "sente a doçura, entrega-te à Doçura...", olhando-a nos olhos, sentindo a Presença das irmãs, o seu rosto ía transformando-se enquanto as lágrimas corriam. Passados instantes o rosto da Diana era de alívio, deleite, deslumbre, os seus olhos abriam e abriam, até que a face da memória se dissolveu no puro olhar da Luz...
O tempo parou naquele lugar, entre as quatro irmãs havia a essência da Rosa Amor. A Ana Maria entregou à Diana o óleo essencial que lhe tivera sido dado por uma aluna da Escola Voz da Terra: "é teu, o óleo essencial de Rosa Absoluto, faz o que entenderes com ele. "
A Susana, entretanto, tinha reparado numas lindas pétalas de madeira que pareciam pintadas. Eram pétalas de uma pinha daquele pinheiro manso que as tinha acolhido. A atenção das quatro irmãs foi dirigida para aquela forma e para os seus detalhes. Procuraram o significado da pinha:
O símbolo da pinha é um dos mais misteriosos emblemas encontrados na arte e arquitetura antiga e moderna. (...) A pinha tem o mesmo significado para todos: simboliza um órgão vestigial secreto, a nossa "glândula pineal" ou "Terceiro Olho", que regula a produção de DMT no cérebro (conhecida como "Molécula do Espírito") e representa a consciência unifocalizada desperta que direciona o fluxo da energia evolutiva. A forma da glândula possui um padrão de filotaxia semelhante ao da pinha, daí o seu nome ("Pine"al Gland, significa Glândula Pineal e tem sua origem da palavra "Pinecone", que significa pinha). A pinha é também universalmente reverenciada como uma das formas mais puras de ocorrência natural da Geometria Sagrada, sendo o seu padrão o precursor evolutivo da flor, e seus espinhos espiralam em uma sequência perfeita de Fibonacci em qualquer direção, muito parecida com a Geometria Sagrada de uma rosa ou um girassol.
No dia anterior o pai da Susana tinha trazido pinhões, abriu-os à sua frente e comeram juntos, desenvolvendo uma conversa muito profunda também em torno dos livros que o pai da Susana lia recentemente. Algo muito profundo se queria mostrar à Susana.
As quatro irmãs decidiram tomar um café ali na bomba de gasolina, que sítio tão improvável para ocorrer um sacramento! Entenderam ali que o Templo vive no Corpo, na Intenção e o Espaço comum gerado entre todas:
"Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles."
De novo dentro do carro, a Diana deu a sentir o aroma do óleo de nardo à Maria João, a sua intensidade impressionante espalhou-se de imediato e causou na Ana Maria sensações difíceis de gerir. Em tempos tinha tido uma experiência complicada ao inalar acidentalmente pólen de uma erva na Namíbia. A sensação era de agonia, pois sentia que o seu corpo não cabia dentro de si. Ao sentir a intensidade do aroma do nardo, começou a ter a percepção da mesma sensação, que já não acontecia desde 2017. Mal entrou no café sentiu necessidade de comprar batatas fritas, por causa do sal, precisava muito de algo muito salgado. Na Namíbia e numa outra ocasião em Portugal, na experiência que tivera, repentinamente, deixou de conseguir falar em português, só falava numa língua de outras esferas, e quando tentava falar em português gritava. Pediu às irmãs para a ajudarem caso isso acontecesse... "se acontecer, deixem-me recolhida até eu adormecer." Com o sal e o café porém a sensação foi desaparecendo até que tranquilizou.
De volta ao caminho liam as cartas do oráculo da deusa divina. Our Art should be judged not on popularity, but on the power to transform us, dizia a impressionante carta da Diana.
A carta da Susana falava do Santuário, do Altar interior como Lar para si e para aquele que procura colo, a da Ana Maria dizia "nada é tão poderoso como trazer à consciência a percepção do Amor que somos, e não há nada nem ninguém exterior a nós que possa reter ou condicionar essa tomada de consciência..."
Este Altar e este Amor Incondicional viriam a revelar-se ao chegar ao Sabugal.
Na estrada lê-se a placa: Aldeia de Santa Maria Madalena e as quatro irmãs decidem visitar a aldeia. À berma da estrada veem um pequeno santuário em forma gótica que associam à forma sagrada da Yoni. Lá inscrito lê-se "Nossa Senhora de Fátima abençoai este povo e todos quantos passam neste caminho." No carro falava-se de memórias e dores muito profundas dentro do consciente colectivo feminino e masculino, memórias de violência, abuso sexual, memória de opressão. Todas sabiam que carregavam a sensação ancestral daquela que não é escutada, daquela que é aprisionada, o nó que se mostrava na garganta da Diana e da Ana Maria queria mostrar-se, revelar-se e glorificar-se - iluminar-se naquele dia. Em frente ao pequeno Santuário de Nossa Senhora de Fátima a Maria João escutou dentro de si: "que vos liberteis!". A Maria João abençoou o útero da Ana Maria e ouvia-se o vento soprar entre as folhas do Carvalho que pendiam sobre o santuário. Folhas surpreendentemente sedosas, traziam um toque muito suave e o seu contorno parecia pintado à mão. No final daquele momento em que se falou dessa dor impressa nas células do feminino e masculino, as três irmãs cantaram a canção "Tulipas Amarelos", como crianças inocentes e jubilantes: "tulipas amarelas, das mais belas!" Como uma Mãe apaixonada pelos seus rebentos, a Maria João repetia o vídeo em loop, deliciada com tão pura inocência!
Eis que chegam a Sabugal e antes de subir ao castelo pousam os olhos numa sequoia monumental! Os 25 metros de altura puxam os olhos para o céu, e o seu tronco é um trono para a Vida! As quatro irmãs entram no espaço sagrado da árvore e a Ana Maria sente que ali se vai ajoelhar para algo muito profundo. Chama o amparo das irmãs que atendem ao seu chamado, e na mais profunda conexão, sentindo-as a seu lado, acede ao seu coração uterino sentindo simultaneamente o coração da Grande Árvore. Lentamente os Corações vão entrando em sintonia, num entendimento que não se consegue traduzir através da nossa linguagem. O Corpo Físico vai abrindo espaços por entre os Espaços do Verbo Sagrado da Natureza, o que é Natural chama a Naturalidade do Corpo, a Fluidez... e num instante a Ana Maria diz: "Segura-me Susana". As mãos da Maria João seguram os pés da Ana Maria prendendo-a ao Chão e a Susana segura o ventre da Ana Maria fazendo fluir a água da memória, a Diana atrás é espaço vazio do canal que entrega e recebe... Um choro longínquo de muitas vozes faz-se ouvir nos lábios cerrados, que parecem amordaçados, lágrimas profundas correm pelo rosto, uma dor intensa, tremenda começa a abrir-se em flor, sobe e cai aos pés da árvore sagrada em sal, até que a Ana Maria se deita no colo da Susana onde sente que pode repousar e dizer as suas palavras estelares... sente no seu Corpo que encontrou o Lugar Perfeito para se entregar, sente consigo o Anel de Fogo do Círculo Mariano. A Ana Maria olha por instantes a terra que cobre as raízes da Sequoia ancestral e percebe que lá tem que plantar o anel da crucificação, que lhe tinha sido oferecido meses atrás... enterra o anel, pousando sobre a terra as mãos, olha os olhos da Susana esperando do seu olhar as palavras do Amor de Jesus... "fala-me desse Amor", pede a Ana Maria à Susana. As palavras saem e a Ana Maria tem percepção de duas faces de si mesma, uma presa à memória que é um corpo magnético fortíssimo que a quer prender ao passado, e outra face nos olhos aguados da Susana. À medida que vai escutando as palavras da Susana a face presa vai perdendo força, perdendo força... até que desaparece. Abriu-se o puro Olhar da Luz e a Ana Maria sentiu-o... o seu Rosto virou-se para a Luz, encontrando o Regaço perfeito nas irmãs para a sua cura.
As quatro irmãs olham-se e sentem a força do que ali tinha acontecido, naquela sequoia gigante com carros estacionados ao lado e gente que passava... mas havia o sentimento de que estavam veladas e que seriam imperturbadas. E assim foi. Depois de rirem e soltarem gargalhadas cantaram o Ponto Sagrado da Rosa de Jesus: "...meu Coração Magdalena, caminha para Jesus! Anjos cantam em louvor ao amor de Magdala, que abre o puro Olhar da Luz, em mim Jesus!"
Com a plena sensação de felicidade e de missão cumprida vão almoçar na Padaria que tem a figura de uma Mulher com espigas à entrada. Comem pão com queijo e a Ana Maria sente mais uma vez a necessidade de comer: pommes de terre... as maçãs da terra bem salgadas.
Caminham para o carro estacionado ao pé de um arbusto de louro gigante ... que tem no seu centro, lá no topo, uma Rosa de um rosa doce, leve, mesmo no centro da Árvore! Ficam deliciadas com a imagem! Nesse lugar a Ana Maria apercebe-se que há meses que sente esta função do sal em determinadas alturas da sua vida, como se o seu magnetismo fosse necessário para solidificar uma nova forma dentro de si - e a Diana diz - o Cristal. Entendem ao olhar uma para a outra que vão fazer o Pão Salgado de Magdala. Entendem todas também que a Rainha Santa Isabel ao distribuir pão tinha em si o fundamento e o Sacramento da Eucaristia... distribuía o Corpo de Cristo, aquele que dá Forma ao Incondicional Amor!
Seguem para o Castelo com folhas de louro (aquele que coroa e que purifica). Estacionam, mas antes gritam de alegria ao ver aquilo que outrora era um forno de pão numa casa sem paredes... E no lugar do Castelo, lá estavam as papoilas, mesmo ao fundo, ao lado da imagem do Milagre das Rosas. As papoilas que as tinham acompanhado até Sainte Baume. Papoilas rechonchudas, como as tinham chamado. Na imagem que relata o Milagre das Rosas, reparam como Mulheres e Homens estão separados por uma torre. De um lado A Rainha Santa Isabel com rosas no seu regaço e do outro D. Dinis com a sua espada a inquiri-la...
Ao final do dia, já em casa, a Ana Maria tirou uma carta do oráculo da Vida dedicada àquele dia, o Oráculo disse: Resgate o seu Ser Sagrado - O masculino esteve em tanto desequilíbrio que sua energia em excesso levou a humanidade a guerras, abuso de poder, violência e intolerância... e o feminino foi calado, excluído, objetificado. Por isso é tão importante o resgate da sagrada energia feminina. Assim poderemos novamente nos permitir sentir as emoções que devem ser intuídas e nos reencontrar como seres cíclicos. Ao revisitar a energia feminina, aprendemos que não precisamos defender-nos em estado de guarda, prontos para atacar. Ao invés disso, podemos resgatar o seu amor e força de criação!
As quatro irmãs apercebem-se que o Milagre das Rosas só acontecera porque o masculino quis demover o feminino. D. Dinis não consentia o livre movimento da sua mulher; porém, a força da Fé fez com que a materialização da Vontade do Espírito encontrasse o seu Caminho Livre. Tudo é profundamente simbólico e as quatro irmãs fizeram naquele lugar uma promessa, como que ajoelhadas no Altar da Rainha Santa Isabel, a de entregar os seus Corações à União Sagrada entre Masculino e Feminino, servindo o real propósito da Torre - Magdala - a Edificação do Canal do Espírito Santo. O que outrora tinha sido edificado como fortificação para ataque e defesa, transforma-se nos seus Corações em Santuário e Lar para o Casamento das Águas, servindo Reis e Rainhas na sua Soberania e Consciência Crística - Deuses e Deusas na Terra.
Ali, naquele Lugar as quatro irmãs sentem a profundidade do Sacramento da União Sagrada e o quão importante é o Sentimento da Verticalidade, Inteireza e Soberania em cada Energia, Feminina e Masculina, para que ambas se possam fundir em harmonia a Amor Incondicional.
Antes de voltarem ao Porto, sentem que têm ainda de passar no rio. Pelo caminho encontram uma simpática senhora que lhes indica a praia de Rapoula do Côa. A caminho, a Ana Maria tem uma visão de si mesma a entrar na água com o seu vestido de menina e lá dentro, rodeada das irmãs, tira a sua roupa interior (como camada simbólica que a esconde e defende do abusador...). E momentos a seguir assim acontece, estão todas já na água, em festa, cantando e rindo: "ninguém te toca, só com Amor"... e assim a Ana Maria liberta-se de uma camada densa da sua memória e eis que nas suas mãos no próximo instante está aquilo que parece ser sal! Estupefacta olha e não percebe como aconteceu... Estava no final da sua Lua Interna e no último dia usa sempre pensos de pano, mas naquele dia decidira inconscientemente "desperdiçar" um penso daqueles que se compram na farmácia, de algodão antialérgicos e biodegradáveis. Do interior do penso soltou-se nas suas mãos, aquilo que parecia ser sal; incrédula pensava: mas eu nunca faço isto, nunca desperdiço um penso nos últimos dias, porque tive que trazer hoje? Olham todas o que parece ser sal nas mãos da Ana Maria e entendem a simbologia de tudo o que acontecera ao longo do dia: a vontade de comer sal, a purga intensa aos pés da sequóia, o Pão Salgado de Magdala para a solidificação do Corpo Amor. O Sal, sentiram, traz o magnetismo necessário para a formação dos Cristais do Novo Amor. Entenderam que teriam a Missão de bendizer o Sal... e de criar o seu próprio Patuá... o seu saquinho com Louro, Rosas e todos os símbolos e instrumentos ligados aos Sacramentos de Myriam de Magdala que seriam em breve fonte de Cura e Amor para outras mulheres.
Profundamente grata à Vida, a Ana Maria tirou o seu vestido de menina e vestiu o Vestido de Magdala, sem roupa interior, leve e livre, despida da memória de criança que a tinha prendido na sensação de impureza. Quantas vezes chorava e pedia aos pés de Jesus: "seja eu digna". Agora, com o amparo das irmãs, brilhava como uma estrela com o seu novo vestido, que, já dentro do carro, reflectia o brilho do pôr-do-sol que se mostrava aos olhos de cada uma. O carro encheu-se de luzinhas que saiam do vestido da Ana Maria que horas atrás falara da sua família estelar e do quão apartada se sentia... E todas lhe diziam: Tu és uma Estrela.
O Milagre das Rosas... da Rosa Amor, deu-se aos pés de um Pinheiro e de uma Sequóia, o sal velho correu pelos rostos da Diana e da Ana Maria, levando a sua história e a história daquelas que as antecederam. Com o amparo das irmãs foram nutridas de nova Luz porque viraram o Rosto para As Palavras de Amor... o Verbo que traz um Novo Sal à Terra. Libertas, as quatro irmãs levavam em si o deslumbre de um dia inimaginável e a Vontade Imensa de Cumprir a Promessa à Rainha Santa Isabel, sabendo-a já cumprida, sem esforço, na mais profunda Entrega e Devoção, celebrando a Alegria Pura de Ser Amadas por Jesus!