en-Trilho dos Capuchos

29/03/2023

Vamos contar-te a nossa primeira história ... vem e abre o sorriso!


"Maria João, vamos à Festa das Flores no Lagar das Almas?" 

A Maria João, que trazia em si um certo arrependimento de outrora ter recusado um convite da Ana Maria e tinha prometido a si mesma que não voltaria a recusar um apelo de alma, decidiu que não tinha como dizer não. A verdade é que o 20 de Março calhava numa segunda-feira, dia de trabalho, era necessário uma certa dança para conciliar a loucura com a responsabilidade, mas os cabelos desvairados ao vento falaram tão alto que não só a Maria João e a Ana Maria disseram que sim à viagem, como também a elas se juntaram a Diana e a Susana. 

A primeira viagem das Magdala aconteceu sem saber que o eram já. Havia uma sensação de aventura jovial à mistura com óleos essências de cedro, geranio e hortelã-pimenta, pétalas de flores do jardim da Diana, tambores e uma shruti box que afinal ficou em silêncio ... Tudo se mostrou inesperado e ao mesmo tempo absolutamente evidente! As sincronicidades mostraram que no Caminho do Grande Amor não existem equívocos.

Logo pela manhã, antes mesmo do Mercedes do pai da Maria João albergar as 4 irmãs, eis que surge o primeiro grande ataque... de riso! Um casaco fica preso na porta da mala e não têm como abri-la para colocar os pertences dedicados ao que viria a ser o Trilho dos Capuchos. A Diana empoleirada no banco de trás faz os máximos esforços para tirar o casaco que teima em não sair, a Ana Maria não resiste à cena e começa a gravar enquanto a Susana ri, cheia de Espírito Santo, à gargalhada. Chega o primeiro homem para auxiliar a situação, o segundo, o terceiro e o quarto, a Maria João assume o lugar da Diana e é agora ela que puxa e puxa, os seus rasgos vocais sôfregos misturam-se com as gargalhadas da Ana Maria que mal consegue respirar enquanto grava tudo, este momento tinha que ser eternizado. Lá fora os homens tentam ajudar da melhor maneira e eis que... a mala abre, o casaco solta-se e as lágrimas espalhadas pelas faces brilham de satisfação! Apetece bater palmas e lançar foguetes. Foi o mote mais-que-perfeito para uma viagem que ainda não tinha começado, mas que já tinha enchido os pulmões de ar dourado. 

O Mercedes do pai da Maria João tem aroma a Violeta, a sua cadela, e é o veículo perfeito, seguro, firme, verdadeiramente masculino no seu poder de arranque e estabilidade! A conversa é feita de pedaços de memórias, sorrisos e sensações daqui e de além. O plano é ter como primeiro destino o Convento dos Capuchos, depois o Moinho para almoçar, e depois o Lagar das Almas da Maria Gorjão Henriques.  

Antes de parar para encher o depósito eis que surge outro incontrolável ataque de riso, daqueles que arrancam os pássaros da terra para encher o céu de asas. O motivo não poderia ser mais ridículo, de repente perdem a idade, às vezes estão na infância outras na adolescência... o corpo ora fica enfeitado de confetis, ora de chantili e morangos. Param para pedir informações acerca da bomba de gasolina e uma das irmãs esconde a cara pois não consegue conter o riso, está aflita para ir à casa de banho e foi assaltada pela santa parvalheira, ri porque ri e pronto. O tortuoso caminho até à bomba de gasolina é um xinfrim de guinchos agudos, notas prolongadas e em semicolcheias, quem ouvisse seria imediatamente trespassado e sugado pelo santo ruído... Chegam à bomba de gasolina e quem atende não consegue conter o sorriso, é bom demais. Passa um camião que diz "Embala na hora" e já estavam a Maria João e a Susana a balancear como quem embala antes dele passar, a Ana Maria com a bexiga aliviada já ri à vontade e a Diana faz também a festa, e estão todas a cantar não se sabe bem o quê...  mas estamos.

Chegam ao Convento dos Capuchos e são invadidas por uma abundância de Silêncio Verde. A Natureza é um cântico deslumbrante que conduz o ritmo dos seus passos, que lhes dirige o olhar ora para a folha ora para o passo da irmã mesmo ao lado. Entram na pequena igreja do convento e sentem o convite do Som impresso nas paredes: a voz sai em improviso e reverbera misteriosamente, abre-se a um Halo de ouro invisível para coroar o momento - o primeiro improviso das Magdala. Durante largos minutos são Espaço e Voz, o Mistério invade o Corpo de cada uma e o Corpo Comum. São quatro e são Uma. Pessoas passam, mas permanecem rendidas à sensação até à última respiração, até à última nota que finda no instante perfeito. 

Lá fora, o guarda do local observa-as. A Ana Maria sai e pergunta-lhe: "podemos cantar aqui?". O olhar abre-se ainda mais e responde: "Sim, aliás, este lugar precisa deste ambiente". A estas primeiras palavras seguem-se outras que deixam as Magdala boquiabertas, o saber e a sensibilidade daquele homem abre os ouvidos, contando parte da história daquele lugar, os seus símbolos e propósitos. E eis que o guarda lhes chama a atenção para o altar que estava ali mesmo à frente, vazio ... "e aqui estará em breve a estátua de Maria Madalena, vestida de dourado, com uma expressão de pura fruição..." As 4 irmãs olham-se incrédulas, pois todas elas são profundamente devotas a Magdalena, o Seu Cálice faz parte dos ensinamentos da Escola Voz da Terra onde desenvolvem a sua conexão com a Voz Sagrada. 

Completamente rendidas iniciam uma caminhada por entre árvores que guardam memórias ancestrais e segredos das estrelas. Tudo parece pairar num silêncio inefável, um silêncio que fala aos poros da pele, que se entranha como óleo de mirra e nardo, a natureza é ali um bálsamo que purifica e acende o coração do iniciado! 

A Ana Maria pega na sua câmara e começa a fazer a sessão fotográfica que já tinha em mente fazer. As 4 irmãs acabam por tirar fotos umas às outras naquele lugar, sentindo que a Expressão dos seus gestos é uma continuidade daquele Silêncio. Todo o Lugar em si é já uma Sinfonia, por isso sentem o Respeito necessário para que Ela, a Sinfonia, continue o serpentear dos seus acordes gloriosos. Não tocam tambor, nem a shruti box nem os sinos de cristal ... deixam-se ser tocadas pela Excelsa Simplicidade. 

Enquanto caminham apercebem-se da fome e do tempo que tinha passado... o relógio era já um prenúncio de que algo não iria ser como era suposto ser. Tinham que ir ao mar, e tinham mesmo que almoçar calmamente no Moinho! Decidiram então... "...não vamos à Festa das Flores, a participação está paga, mas há algo muito importante a cumprir, vamos ser fiéis a esta Energia...". O sentimento era demasiado forte, tinham que ficar em Sintra! E assim foi, seguiram rumo ao Moinho e depois para a praia do Guincho.

O almoço teve sabor a mar, a sol, a flores, a verde ... a gargalhada!!! Agora que tinham decidido que não íam ao destino planeado estavam imbuídas do gosto a liberdade... e o Mar, visto lá ao fundo, chamava e chamava! Desceram até à ventosa praia, e lá, a Diana faz a roda e a Ana Maria imita-a sem tirar os pés do chão, os músculos doem de tanto rir e o vento leva a água dos olhos... O pôr-do-sol enche a praia de ouro e rosa, tudo estava preparado para que as Magdala sentissem pela primeira vez a sua Voz. Cantam o Ponto Sagrado a Iemanjá da Maria João: "Axê Iemanjá..." quando se fundem as terceiras criadas pelas vozes graves e agudas há um bbbbbzzzzzz que se sente dentro dos ouvidos. Os harmónicos casam-se como se casa o mar e o sol! As 4 irmãs são invadidas por uma sensação de Chegada a algum Lugar... que Lugar? a imensidão é o meu lar... são as palavras que ficam a ressoar naquela praia.

As estrelas começam a mostrar-se e há ainda tempo para o momento Oráculo - o Oráculo das Deusas. Leem as mensagens debaixo de um manto de estrelas com o som do mar ao fundo e há um sentimento de dia perfeito que se espelha no olhar. Seguem viagem de volta para o Porto e a Diana diz: "apetece-me cantar". Começa a cantar: "cabocla, seu penacho é verde, é da cor do mar..." Fundem as vozes nesta melodia e sentem a força da mata, eis a Cabocla Jurema que brinda as Magdala com o seu arco e flecha! Jurema chega para as abençoar com o dom da intuição que sabe a direção a tomar! Seguem-se outros Pontos Sagrados e a Abundância da Floresta e do Mar desenha-se nos seus sorrisos!  

A caminho a marcha na autoestrada fica de repente mais lenta, mais à frente decorre o transporte de uma turbina gigante e voltam novamente à adolescência cantando os hits dos anos 80 e 90 espantadas com o tamanho da turbina! É noite, mas há tanta luz entre elas, há a Alegria Pura, maná das Esferas Amorosas! 

O retorno a casa é uma promessa de novo encontro e nova viagem ... nos olhares estavam já rotas de estrelas e céu azul ... o que dali viria ninguém sabia, mas era certo o brilho de Magdalena no olhar!   

No Moinho - Sintra
No Moinho - Sintra